quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Maternidade de substituição para todos: barriga de aluguer vs prostituição e tráfico humano

foto retirada do site mundosdastribos.com
Parece que quanto maior é a crise, maior é a tendência dos legisladores de se debruçarem sobre assuntos marginais, que em nada contribuem para ultrapassar esta situação delicada em que nos encontramos.

Agora a moda está nas barrigas de aluguer, no projeto-lei sobre maternidade de substituição, um nome bem mais pomposo e menos perjorativo. Diz o PSD e o PS que esta possibilidade deve ser dada a casais heterossexuais que sofram de problemas de infertilidade. Diz o BE que esta possibilidade deve ser dada a todas as mulheres que o desejem, e a casais homossexuais também.

Numa recente reportagem do Linha da Frente, ficamos a saber que as novelas afinal até são importantes, já que uma mulher decide ser barriga de aluguer porque viu uma novela brasileira que gostou muito, e que as barrigas de aluguer nos países com condições podem chegar aos 100 mil euros, enquanto que se mandarmos vir um bebé de países como a Índia o valor pode chegar aos 15 mil euros;

Eu nunca tive filhos nem tenho perspetivas de os ter brevemente, pelo que nem sequer sei se sou fértil ou não. Seja como for, não consigo imaginar a dor que certos pais devem sentir por não poderem ter filhos. Como tal, consigo compreender que queiram encontrar uma forma de terem uma criança que possam amar, criar e chamar de seu filho, e daí pensarem em todas as opções, inclusive a barriga de aluguer. No entanto, porque é que precisam de recorrer a uma barriga de aluguer quando há tantas crianças à espera de serem adotadas? Qual é a diferença entre um bebé que eles "mandam fazer" na barriga de outra pessoa, e outro (eventualmente não bebé, mas novinho) que eles podem acolher, e que já está neste mundo, muitas vezes a sofrer de solidão e isolamento?

Em relação aos casais homossexuais, a questão é exatamente a mesma que a adoção. Não consigo ter opinião, pois faltam-me dados. O meu pré-conceito diz-me que será uma educação desequilibrada, mas faltam-me dados para contrapor, pelo que não me sinto confortável para opinar.

O que é, para mim, mais escandaloso, é a proposta de liberalizar por completo a barriga de aluguer. Os custos envolvidos tornarão a operação apenas disponível para casais ricos (a não ser que o BE pretenda que o Estado custeie também isto, o que seria uma anedota, no caso das mulheres que, podendo ter filhos, optam por os "encomendar" a outra pessoa), e serão, na prática, operações de cosmética. A mulher evita 9 meses de enjoos, chatices, médicos, ecografias e barrigas grandes, e compra um filho mandado fazer noutro sítio, ao mesmo tempo que mantém a sua linha e forma física invejável. O que é que vai conseguir com esta atitude de desprendimento? Não haverá qualquer ligação emocional ao filho, e se já hoje em dia verificamos que este tipo de pais são completamente ausentes com filhos que eles próprios geraram e criaram, pior será quando eles puderem mandar vir de fora, tipo encomenda. Até já estou a imaginar os slogans: "Empresas de barrigas de aluguer: mais seguro que mandar vir pela cegonha". É um profundo desrespeito pela dignidade da vida humana, e um profundo desrespeito pela condição de pais que esse casal quer passar a ter.

Estamos cada vez mais a baixar os standards da nossa sociedade. O relativismo e o facilitismo apoderaram-se de quem manda e afeta toda a gente. Já podemos mandar abortar quantas vezes quisermos, quase como método contracetivo (sim, há mulheres que abortam uma vez por ano, desde que a lei foi aprovada), e agora estes senhores políticos querem que a balbúrdia seja completa e que os filhos passem a ser encomendados por fora, para "não dar trabalho" às coitadinhas das mamãs...

Na prática, a barriga de aluguer liberalizada para toda a gente é o mesmo que prostituição e tráfico humano juntos: mulheres que vendem o seu corpo, em troca de dinheiro, para que outras pessoas tenham prazer com isso, e que depois vendem as crianças que geram - e não são nada baratas. Uma senhora na reportagem da RTP cobrava 25 mil dólares, fora despesas médicas, para vender o bebé que gerava na barriga. Sinceramente nem sei o que é mais intrusivo, se a prostituição, se a barriga de aluguer. E sim, não tenho dúvidas que, se liberalizarem isto para toda a gente, sem regras, não tardarão a surgir os chulos, da mesma forma que os há na prostituição: maridos que vêem nas barrigas das suas esposas pouco informadas e submissas formas de ganhar um dinheirinho por fora, e que as vão obrigar a fazer isso, no que pode e deve ser considerado tráfico de pessoas humanas, neste caso, legal.

Deixo uma pergunta final: e as senhoras que vão dar a sua barriga, é-lhes assim tão fácil gerar um ser durante 9 meses dentro da sua barriga e depois vendê-lo assim que ele sai fora?

Adenda:


Fui chamado à atenção por alguns amigos para o facto de que os projetos de lei de PSD, PS e BE referirem que não é permitido receber dinheiro pelas barrigas de aluguer, retirando assim a possibilidade de mercantilizar a questão. Em teoria, parece-me bem feito, mas na prática duvido da aplicabilidade. No caso dos casais inférteis, eu até posso conceber que uma pessoa completamente estranha ao casal se queira voluntariar para ter um filho por eles, sem receber nada em troca. Acho pouco provável, mas teoricamente possível. Agora no caso do BE, que pretende que todas as mulheres tenham acesso a isto, alguém acha credível que uma mulher se voluntarie para ter um filho em lugar de outra perfeitamente saudável, sem ter nenhuma espécie de compensação monetária ou de outra espécie, só porque sim? Esta gente vive no mundo da lua, só pode...

12 comentários:

Rabbit disse...

Completamente em desacordo, em tudo. Uma barriga de aluguer é isso mesmo...o bebé não é da mulher que o gera, mas dos dadores do óvulo e do espermatozóide. Mas enfim, esta é uma dasquelas questões fracturantes em que não há volta a dar. E neste caso até serve é para desenjoar um bocadinho da crise...

Melinda disse...

eu acho q a vantagem da barriga de aluguer em relaçao à adopção é a possibilidade de o filho ter uma relação biológica com um dos pais. no entanto há uma desvantagem grande que é a vontade da mae biologica.... pode arrepender-se a meio da gravidez ou reclamar o filho mais tarde, dada a ligação pessoal que já teve com o filho e com os outros pais.
Não tinha pensado no cenário dos maridos chulos... mas é um facto... no entanto nao é preciso as barrigas de aluguer, os bancos de esperma é a msm coisa e não tenho conhecimento de historias de "prostituição" forçada nem nada do genero... também é preciso ter cuidado quando se compara o conceito de "barrigas de aluguer" ou "maes de substituição" com prostituição... não há actos sexuais envolvidos.

Um pai que não sabe o que faz disse...

L., A mulher aluga só o espaço, portanto... não te parece que seja uma observação muito fria e distante, conseguir alugar o útero e gerar uma criança como se não fosse dela, a troco de dinheiro? Eu não sou mulher, obviamente, mas parece-me difícil que uma mulher gere uma criança durante 9 meses como se não fosse dela, como se fosse simples mercadoria, e depois se limite a entregá-la, assim, sem mais nem menos.

E volto a frisar: o mais escandaloso para mim é que a mulher possa mandar vir de fora o seu filho, mesmo podendo ter filhos ela própria, isso é que é incompreensível para mim...

Melinda, quanto à questão da comparação da prostituição, o ato sexual é um "pormenor", ou seja, a questão de fundo é a mesma: as mulheres vendem o seu corpo para dar prazer a outras pessoas, umas através da geração de um bebé durante 9 meses, outras através de um ato sexual de 1 hora ou 2. Ser através de ato sexual é pior? Sinceramente, eu não sei o que será pior, partindo do princípio que a mulher faz qualquer uma das opções de livre vontade...

E sim, há ainda o caso das pessoas que se arrependem e das embrulhadas não legais, mas emocionais, que resultam daí...

Melinda disse...

«conseguir alugar o útero e gerar uma criança como se não fosse dela, a troco de dinheiro» pessoalmente parece-me frio e distante mas do meu ponto de vista nao tenho o direito de criar constrangimentos sobre as opinioes e sobretudo acções das outras pessoas, quer sejam a favor ou contra... é uma questão pessoal e diz exclusivamente respeito às pessoas envolvidas... nao impacta mais ninguem, por isso...

Se a mulher pode ter filhos ela propria nao há motivos para ela ir pedir a outra p ter o filho dela... essa historia de nao querer ter trabalho nem esforço da gravidez p mim nao é um cenário que se venha a colocar, pois nesse caso tb nao vai qerer ter o trabalho de cuidar do filho depois, muito menos se nao for dela.

A questão da prostituiçao é perigosa ricardo, é uma qestao de dar o nome certo às coisas, ou corres o risco de parecer um noticiario sensacionalista da tvi :) Por outro lado o prazer pode ser visto num sentido muito lato e do meu ponto de vista é sempre legitimo, desde que isso nao cause constrangimentos a terceiros.
Segundo o argumento q deste para comparar a prostituição ao tema desta coversa, a prostituição pode ser aplicada a muitas profissões muito dignas e honestas, já que lhes custa o corpo. Ha pessoas q vendem o corpo todos os dias, tipo as pessoas q todos os dias estao sentados a uma secretaria e ficam mais cedo ou mais tarde com tendinites e problemas musculares e ósseos na coluna, e passam a usar oculos por causa do esforço de precisao visual que lhes é exigido no ambito da actividade profisisonal, ou do pessoal que passa o dia a trabalhar em pe que fica com problemas serios de circulaçao sanguinia, os mineiros... estão a vender mais do que trabalho mas também lhes custa o corpo em troca de um salario ao final do mes que por sua vez vai proporcionar prazer, e nao nao sao prostitutos pois nao? :p

Finalmente, nao acho bem esta opção das barrigas de aluguer, pode colocar questoes éticas/morais, mas como só diz respeito às pessoas envolvidas e não coloca em risco a vida de ninguem, podendo até trazer felicidade... acho que não deveriam ser colocados impedimentos legais nem constrangimentos morais sobre as pessoas que decidem por essa opção.

Um pai que não sabe o que faz disse...

Melinda,

Antes de mais discordo que seja uma questão pessoal que não diga respeito a mais ninguém, por duas razões: há uma criança envolvida, que poderá sofrer no futuro, ou por problemas entre os pais biológicos e compradores; e por essa criança saber que, mesmo podendo gerar filhos, a mãe optou por mandá-lo ser gerado por outra pessoa. Como tal, acho que não é propriamente uma relação privada entre duas pessoas apenas (neste caso, a prostituição até é mais privada que este caso, porque não implica uma relação comercial com vista à geração de uma criança)

Todas as profissões custam o corpo a quem as pratica, por uma razão ou por outra. No entanto, rejeitamos a prostituição por ser uma violação da integridade da pessoa. E a pessoa gerar dentro de si um ser humano durante 9 meses, e depois entregá-lo por dinheiro não o é?

Dizes que "Se a mulher pode ter filhos ela propria nao há motivos para ela ir pedir a outra p ter o filho dela...". No entanto, isto é um cenário em cima da mesa, segundo o projecto-lei do Bloco de Esquerda. E duvidas que todas aquelas pessoas que gastam fortunas a manter o corpo num standard de qualidade muitas vezes artificial iam hesitar em usar esta possibilidade para não o prejudicarem? Sinceramente, não o acho...

Cada pessoa devia ser livre de fazer o que quisesse da sua vida. O problema é que esta liberalização pode prender mais as pessoas do que as libertar, e há que pensar também nos bebés gerados... é que as reportagens são falam dos casos que resultam. E aqueles que deram problemas e estragaram vidas, não houve nenhum até hoje?

Anónimo disse...

Melinda
A relação prostituição/ tendinites tem tudo haver

Está de morrer
... ah, ah ah
Grandes mentalidades, sim senhora...

Eu...
" Eu... quero ir pá ILHA ! "

Melinda disse...

Bom sou sincera, nao estou por dentro dos detalhes q estao em cima da mesa, só ouvi a noticia por alto na rádio.

Em relação à última pergunta: não sei se já houve vidas estragadas, tu sabes ou estas a argumentar pelas vidas estragadas dos filhos com base em conjecturas sem fundamento prático? :)
Em relação ao tema da prostituição e da violação da integridade fisica... se calhar a minha posição tem um bocado a ver com o facto de eu tb nao concordar com a penalização da prostituição.

Concordo com praticamente tudo o que dizes, sobre os aspectos negativos e morais, mas acho que há mais a ganhar do que a perder, simplesmente pela possibilidade de alguma forma ter um filho biológico, no caso dos homens claro está... mas enfim, ao menos que haja uma ligação biológica com um dos elementos do casal.

Mas em relação a este tema acho que nunca se vai chegar a um consenso, passa mais por uma questão de analisar prós e contras e perceber o que pesa mais na balança.

Tb ha outro risco aqui, que é o de as maes, mesmo nao sendo barrigas de aluguer, passarem a "reclamar" legitimidade em vender os filhos, tricky :/

Um pai que não sabe o que faz disse...

Melinda,

Não conheço casos práticos, estou a tentar ver The Big Picture. Desconheço se todos os casos correram bem até hoje, por isso coloquei a hipótese de se mostrarem os que correram mal e porquê, para se perceber...

A questão da ligação biológica não sei se fará sentido. Se a ligação biológica é tão forte e importante, será impossível à mãe de aluguer largar assim o seu filho...

Concordo que este seja um assunto difícil, que mereça muita reflexão, mas apenas no sentido dos casais inférteis. Liberalizar isto para que as tiazonas possam manter a linha e encomendar filhos... não me parece!

Anónimo disse...

Melinda

Fizeste-me refletir:
A diferença entre prostituição e estar à secretária e ganhar uma eventual tendinite está apenas na afectação de orgãos Uma afecta apenas um membro, a mão. A outra deve afectar outros orgãos, penso eu. Talvez seja mesmo uma questão de estogamo digo estômago, já ouvi quem faça por necessidade, mas pensando bem,a mão, o pé ou outro orgão, é tudo igual. Pode também ser uma questão de hábito...

Anónimo disse...

O melhor será explicar à Melinda que a prostituição está mais que liberalizada no nosso País. Será que não lê, vê jornais, pois é, não é preciso ler é só ver as imagens, não basta ouvir rádio.
Mas Ricardo não mostre o big the picture(um inglês exímio, tenho inveja) à Melinda, ela pode cair para o lado. O assunto era barrigas de aluguer, bolas enganei-me no assunto.
Tenho desculpa, porque aprendi que quem tem o correcto bem firmado na consciencia, o pecado deixa de fazer sentido. Mas que teoria mais absurda.
Desculpa Melinda fiz confusão com o assunto, estamos sempre aprender.
Os anónimos são a-bo-mi-ná-veis . Tenho de criar uma conta google com uma imagem toda XPTO quem sabe um big the picture bem vistoso.

Anónimo disse...

Alô Alô melin............da
Cucu-u .....uuu
- Aind...a não fui pá ilh.....a...
.......Ainda estou a analisar os potenciais cenári....os .
M. dizes que "a prostituição é perigosa" - olha não sabia, há quem diga que à umas borrachas que se enfia não sei aonde e têm sabores, que torna a coisa menos perigosa, coloco as minhas dúvidas, concordo contigo para mim continua perigosa e os sabores deve ser tudo mentira; temos de dar nome às coisas"- concordo temos de batizar tudo, tudinho até o big the picture; claro que é obrigatório ver a "prostituição no sentido lato" dizem que em grupo é muito melhor, quer dizer desde que não se ofenda terceiros, como afirmas, sem problemas avancemos no pensamento, que não é para todos só para quem reflete muito. Mas por favor baixa o volume do rádio.
Melin...da tu és uma visionária, pensa bem, desliga mesmo rádio, apaga a TVI, sabes a casa dos segredos faz mal a toda a gente, a ti não! A Catia até boa rapariga, sabes todos os dias aparecia no Jornal acabei por ficar a conhecê-la, é capaz de ter potencial para o negócio que se poderá engendrar com os maridos chulos e as barrigas de aluguer. Analisa bem: temos as tiazonas cheias da mani (ai meu inglês),as barrigas de aluguer com espaço, os maridos das barrigas de aluguer felizes (só aqueles que consentirem o negócio- vão acabar por concordar todos tendo em conta a rentabilidade)e não podemos esquecer do big the picture, que poderão ser os maridos das tiazonas ou não, é à escolha. Os intervenientes principais deste projecto megalómano está lançado. Para fazer face à crise é só substituir todas as secretárias do mundo por camas, afinal pode-se fazer tudo em cima de uma cama escrever..., reciclamos as secretárias em camas, claro que temos que fazer uma parceria com o Ikea.É pá isto vai ser megalómano! não comentes nada com o Futre ,rouba-nos a ideia... Portugal fica a Capital do mundo, afinal foi quem teve a ideia, isto vai ser aviões para cá e para lá, isto vai se aumento demográfico. E para acabar definitivamente com a fome no mundo é só fazer uma hortazinha debaixo da cama, os brasileiros que são especialistas em cama podem cultivar o café, os chineses o arroz... é só uma dica para o comércio das exportações de cada País.
A ti não te interessa nada isto, estava a pensar que tal te dedicares ao recrutamento do big the picture. Fala com especilistas
na matéria, mas aconselho-te se calhar se fechares os olhos e tomares um Eno de seguida, consegues resolver o problema.
O quê? Não estás a ouvir, quer dizer não estás interessada é isso?. Sim eu sei é um projecto ambicioso, trabalhoso. O quê? queres voltar às secretárias. E a tendinite?
O quê? deixa-me desligar o rádio.
Tás curada. Ufa!

Anónimo disse...

Se algum dia tiver a infelicidade de sentir que não pode ter um filho biológico gerado pela sua mulher/companheira acredite que será obrigado a pensar na maternidade de substituição com outros olhos, sem ser á luz de hipocrisia e falsas moralidades. Só se deve falar e opinar depois de muito ler sobre o assunto.
https://www.facebook.com/pages/De-onde-vem-o-meu-beb%C3%A9/617091804985404